UROLOGISTA E PRESIDENTE DA SPA
Sim, a Ejaculação Prematura (EP) continua a ser um tema tabu. Aliás, é idêntico ao que acontece com todas as disfunções sexuais, seja a EP, sejam as alterações do desejo, seja a Disfunção Erétil. Mantem-se um tabu, porque os homens continuam a ter muita vergonha, continuam a fugir das consultas. Basta olhar para os estudos que foram feitos recentemente ao nível internacional, onde se incluíram vários inquéritos quer na Europa quer na América e na Ásia, para verificar que o médico continua a ser o último recurso para o doente com Ejaculação Prematura ou com Disfunção Erétil. Estes doentes não se queixam ao médico, preferem a internet, as revistas ou, muitas vezes, a própria parceira. O médico é o último elo da cadeia.
Ainda continua a ser difícil. As ações de informação e sensibilização que se têm feito, umas vezes com a colaboração de farmácias, outras vezes com a colaboração dos media, têm procurado dar informação, de modo a que quem tem estes problemas saiba que pode recorrer ao seu médico, seja o Médico de Família, o Andrologista ou ainda o Sexólogo, para os tentar resolver. Procuramos que as pessoas saibam que há solução, têm é de procurar ajuda médica. Se preferem não fazer nada, se continuam com vergonha e preferem ir à "net" – porque na internet não dão a cara e por isso não há a questão da vergonha – então não vão resolver o seu problema. E, muitas vezes, o problema é fácil de resolver. Se for detetada precocemente, a EP poderá resolver-se. Se se deixa arrastar e, em vários casos, se deixam passar anos, vai ser mais difícil de tratar. Com frequência, nestas situações de longa data, temos problemas no próprio doente, problemas no casal, problemas sociofamiliares, socioeconómicos e sociolaborais. Uma disfunção sexual afeta tudo o que gira à volta daquele indivíduo; o problema sexual é como uma bola de neve, ao entrar num círculo vicioso, será muito mais difícil sair dele.
Tenho, são de facto situações que acontecem. Trata-se de doentes que têm o problema desde sempre, muitas vezes desde a sua primeira relação sexual, e que não resolvem o problema. São os casos da chamada Ejaculação Prematura primária. A parceira pode ajudar ou não – às vezes não ajuda mesmo – e as situações vão-se eternizando. Torna-se muito complicado tratar estes doentes.
É verdade. Sempre que possível, com os nossos parceiros institucionais, temos tentado fazer campanhas de divulgação sobre a disfunção sexual, seja esta qual for. Procuramos alertar, quer para as disfunções em si quer para as doenças e comorbilidades que se verificam nos doentes que normalmente têm Disfunção Erétil ou Ejaculação Prematura. Isto porque, muitas vezes, a correção destas comorbilidades melhora as situações, que com frequência são mistas. Temos, por exemplo, doentes que têm hipodesejo, Disfunção Erétil e Ejaculação Prematura. Importa, no entanto, ressalvar que a Ejaculação Prematura é uma entidade muito própria, pois inclui muitos fatores e, entre estes, fatores psicogénicos.
Exatamente. Podemos estar a falar de uma EP Primária ou de uma EP secundária. A EP Primária é aquela que existe desde sempre e é a mais difícil de tratar. A EP secundária surge em qualquer altura da vida, é episódica e é mais fácil de abordar, em termos terapêuticos.
Atualmente Presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia, Augusto José Pepe Cardoso é presença habitual nos congressos da especialidade. Médico urologista no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, exerce também clínica privada na região da Grande Lisboa, sendo responsável pela Consulta de Andrologia da Clínica de Santo António. Na internet, são vários os comentários de pessoas que passaram pelo seu consultório e recomendam “o seu médico”.
Licenciado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, Pepe Cardoso realizou o internato geral nos antigos Hospitais Civis de Lisboa e o internato complementar de Urologia no Hospital de Curry Cabral. O interesse pelas áreas da sexualidade e, em particular, pelos problemas que afetam os homens, fizeram-no juntar ao título de especialista em Urologia pela Ordem dos Médicos uma Pós-Graduação em Medicina Sexual.
Hoje em dia, além da terapêutica psicológica e terapia de casal, com o apoio da Sexologia, temos terapêuticas farmacológicas que nos permitem mais facilmente tratar estes doentes.
Se não se fizer nada, muitas vezes estas situações desencadeiam outras e a uma Ejaculação Prematura associa-se uma Disfunção Erétil e depois hipodesejo. Por vezes, há situações de inibição do desejo sexual por defesa – o doente evita ter relações sexuais, porque dessa forma o problema não acontece. Há, portanto, um sublimar da situação; mas não podemos esquecer que, deixando de haver uma boa saúde sexual, deixa de haver uma vida sexual saudável, que é fundamental para que haja uma boa saúde global.
Se o homem vem à consulta sozinho pedimos que, na segunda consulta, venha com a parceira. Normalmente, também pedimos a colaboração dos colegas de Sexologia que trabalham connosco; portanto, é uma equipa multidisciplinar que fará todo esse trabalho, pois muitas vezes precisamos de terapia comportamental, de terapia do casal. Na EP secundária, com frequência associamos as terapêuticas medicamentosas orais com terapia comportamental para tratar estes doentes. Aliás, neste tipo de EP, por vezes até poderemos usar a terapêutica medicamentosa oral como primeira linha e não as terapêuticas comportamentais. Na EP primária, como disse, a situação é mais complicada e aí vamos precisar de todas as armas que temos ao nosso dispor para conseguir tratar estes doentes. O casal é fundamental, pois se não houver uma ajuda da parceira dificilmente iremos conseguir.
O Dr. Pepe Cardoso advoga que para tratar disfunções sexuais é preciso ter em conta os três elementos da relação. A declaração pode à partida surpreender, mas rapidamente se compreende. "Não nos podemos esquecer que a relação é a três, no sentido em que um casal são três componentes – o homem, a mulher e o casal. Se nos esquecermos da terceira componente, que é o casal, ou se nos esquecermos de cada um individualmente, não conseguiremos nada. Portanto, temos de tratar sempre as três componentes", afirma.
Além disso, acrescenta o urologista, é preciso não esquecer que os tempos mudaram e que o papel de cada elemento na relação também é diferente. "Antigamente, o homem dizia: ‘vou servir-me da minha mulher’. Atualmente já não é assim, a mulher está na relação em pé de igualdade com o homem, e é desta forma que temos de ver as coisas; de outro modo não teremos resultados, pois há um dos elementos que nos estará a escapar", lembra o Dr. Pepe Cardoso.